sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sou mais um nas estatísticas


Galera, eu tive medo. Nestes 22 anos de vida nunca tinha sofrido um assalto e nesta quinta-feira (04) perdi o cabaço. 

Eu estava no caminho para o debate da Globo, o tão esperado #UFCRecife, quando fui vítima da violência urbana e da falta de investimentos em educação.

Peguei meu ônibus passando pela Estrada de Belém, que me deixaria na porta do Centro de Convenções, local do debate. Não fui convidado, não tinha credencial, mas daria um jeito de entrar como sempre faço. A bronca começou no instante que pedi para descer: por conta de um engano, o ônibus parou umas duas estações antes da minha, mas só percebi o engano quando desci tabacudo mesmo. Como ainda estava no horário (era umas 22h20), decidi ir a pé mesmo.

Mais um erro.

Ninguém me avisou que a Estrada de Belém era tão perigosa naquele horário. Não dei nem 10 passos e dois rapazes em uma bicicleta me fecharam. Acho que eram crianças, pelo tamanho aparentavam ter entre 11 e 13 anos. Quase fui jogado no chão com o tranco que levei e só notei que era um assalto quando vi a turma na parada de ônibus correndo.

Me lasquei.

Os pirraia foram rápidos. Nem pensei em reagir, só levantei as mãos e ouvi eles gritando algo como "celular, celular!" os dois usavam boné bem assentado, o que dificultava olhar o rosto dos dois. Entreguei o aparelho sem pensar duas vezes, pois acho que eles me viram descendo do ônibus com ele na mão. Era um risco dizer que não tinha celular e levar um balaço.

Ainda tentei negociar, pedindo o chip. Mas levei um dedão na cara seguido das palavras "ó aqui o teu chip". E eles foram embora de bicicleta.

Tava tremendo tanto que faltou pouco para me mijar todinho. Segui até um posto de gasolina, pedi uma água e fui orientado pelo frentista a fazer um boletim de ocorrência o mais rápido possível. Naquele horário, só o plantão de Olinda poderia me ajudar e foi o que eu fiz. Peguei um táxi no posto mesmo (o taxista, muito brother, havia largado e ia para Olinda) e segui até Casa Caiada para fazer o registro.

Naquele momento, nem queria mais saber do celular e esqueci completamente o debate. Eu estava indignado com a violência e a agressividade às quais fui submetido e só ontem percebi como nossa sociedade está doente.

Na delegacia de Olinda o policial me perguntou se eu queria fazer uma busca pelas redondezas, até encontrar os rapazes. Até sugeriu que eu poderia "dar o troco". Não sei o que ele quis dizer com isso, mas preferi deixar para lá e só registrei o B.O. para engrossar as estatísticas do bairro, torcendo que as rondas por lá sejam mais constantes. De que adiantaria ir atrás dos ladrões? Primeiro que dificilmente os encontraríamos e segundo, se tivéssemos sorte, só reaveríamos meu celular e eles seriam levados a uma unidade da Funase que não reeduca ninguém, muito menos quem nunca teve acesso a uma escola de qualidade.

Eles são agressores e também são vítimas da falta de oportunidade e da educação deficiente em nosso estado. Reconheço os avanços recentes, mas ainda falta muito para que possamos ser chamados de civilizados.

9 comentários:

  1. Os dois últimos parágrafos... sem palavras. Parabéns, ao invés da revolta você viu o lado das vítimas.

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  2. O debate não foi no Teatro Guararapes?
    Mesmo assim, parabéns pelo texto. Bem vindo a realidade.

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  3. Com 11 anos não se vai para a Funase.

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  4. Mas não precisa andar muito pra saber que aquela área é super perigosa.
    Infelizmente, isso também não quer dizer muita coisa, porque agora independe se são 22h20 ou 8h da manhã.
    É lamentável ver quando o assunto é assalto, sempre tem muita gente pra dar seu testemunho.

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    1. Infelizmente, isso * de horário * também não quer dizer muita coisa...

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  5. Meus Gizuisss do Céu! Quando será que isso pelo menos será amenizado!!!! aii gizuisss

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  6. Meus Gizuisss do Céu! Quando será que isso pelo menos será amenizado!!!! aii gizuisss

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  7. Quanto ao último comentário, discordo no trecho "...são vítimas da falta de oportunidade e da educação deficiente...", pois também não tive oportunidades e também fui aluno de escola pública, nem por isso escolhi o caminho mais fácil, então acho errado tratar marginais como indivíduos sem oportunidades, pois desrespeita as pessoas que mesmo com todas as dificuldades ainda trilham o caminho correto.

    Antes que eu esqueça parabéns, pelo blog, alem do nome criativo, achei o conteúdo bem escrito.

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