Na cidade recortada
que a água doce serpenteia
cheia de histórias e lendas
pulsa nessas fendas
a cada vista a certeza
de quem te chama Veneza
o falso orgulho corre na veia
Do alto, manto azul e branco
abençoando a procissão
que sobe o morro a pé
dando amostra de fé
que a santa sem cargo
pede licença ao Carmo
para aliviar a multidão
Na praia recebendo alegrias
de todos os cantos do mundo
todo dia é dia normal
o mesmo mar, o sal e o coral
continuam fazendo sorrir
insistentes em cobrir
as mazelas do arrecife imundo
Então acordei em uma cidade
erguida em meio ao lamaçal
odor forte, intenso e roto
do caldo na beira do esgoto
jogado embaixo da ponte
onde gente vive e se esconde
tentando ser mais que um animal
A cidade que luta noite e dia
pelo título de maior do Brasil
deixa filhos largados à sorte
jogados para driblar a morte
há mais de quatro séculos
e nos deixa assim, incrédulos
sem santa, sem orgulho e sem rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário