terça-feira, 12 de março de 2013

Recife encoberto

Na cidade recortada
que a água doce serpenteia
cheia de histórias e lendas
pulsa nessas fendas
a cada vista a certeza
de quem te chama Veneza
o falso orgulho corre na veia

Do alto, manto azul e branco
abençoando a procissão
que sobe o morro a pé
dando amostra de fé
que a santa sem cargo
pede licença ao Carmo
para aliviar a multidão

Na praia recebendo alegrias
de todos os cantos do mundo
todo dia é dia normal
o mesmo mar, o sal e o coral
continuam fazendo sorrir
insistentes em cobrir
as mazelas do arrecife imundo

Então acordei em uma cidade
erguida em meio ao lamaçal
odor forte, intenso e roto
do caldo na beira do esgoto
jogado embaixo da ponte
onde gente vive e se esconde
tentando ser mais que um animal

A cidade que luta noite e dia
pelo título de maior do Brasil
deixa filhos largados à sorte
jogados para driblar a morte
há mais de quatro séculos
e nos deixa assim, incrédulos
sem santa, sem orgulho e sem rio.


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