terça-feira, 13 de março de 2012

Censura: rádio manda barrar ouvintes que entram no ar


Sim, o assunto é delicado. Quando se fala em censura, todo cuidado é pouco. Corri atrás dessa denúncia assim que ela chegou no e-mail mais quente da cidade (estagiarioblogsocial1 @ gmail . com) e só agora me senti à vontade para publicar aqui.

O que apurei foi o seguinte: a Rádio Jornal AM, um dos veículos de comunicação pertencente ao grupo JCPM, está filtrando os ouvintes que entram no ar com medo de que eles falem sobre a possível ocorrência de trabalho escravo nas obras do Shopping Rio Mar, no Pina, que pertence também ao grupo JCPM de João Carlos Paes Mendonça.

Existiria uma ordem de restrição na Rádio Jornal que partiu diretamente de um dos diretores. Há uma lista com os nomes de "ouvintes rebeldes", que podem tocar no assunto que tanto desagrada o SJCC e eu tô aqui assinando minha carta de despedida do estágio... sou doido mesmo! e, portanto, devem ser tirados do ar imediatamente. Tocou no assunto "escravidão", a linha do ouvinte cai na hora, sem explicação. Todos os operadores de áudio já foram informados.

A notícia teve repercussão nacional apesar do veículos locais falarem de leve sobre o assunto. Ninguém escreveu ou falou uma linha sobre o assunto com o merecido destaque. Que feio, né? Jogo de compadres...

Mesmo assim, com o "cala a boca" das redações, o burburinho se espalhou pelo Recife e todo mundo ficou sabendo: seis trabalhadores não recebiam salário há mais de 40 dias, viviam em condições precárias (dormindo no chão em colchões sujos e mofados), comiam feijão e macarrão azedos, estavam com as carteiras de trabalho retidas e nem papel higiênico havia no banheiro. Um horror nas obras do shopping que deve ser o mais luxuoso da cidade.

Canteiro de obras do RioMar: Princesa Isabel ficaria muito triste...

Não há como esconder isso. Nem adianta impedir ouvintes de exercerem o direito à expressão. Por acaso isso vai acabar com o trabalho escravo? Todo mundo já tá sabendo, diretoria! Relaxa aí e bola pra frente. E outra: o povo do Recife é inteligente e sabe que nosso querido painho João Carlos Paes Mendonça não tem nada a ver com isso.

Leram direitinho? JCPM não tem NADA A VER COM ISSO. Os trabalhadores que eram mantidos como escravos eram terceirizados de uma empresa paranaense, a Mastel Montagem de Estruturas Metálicas Ltda. O Ministério do Trabalho e Emprego já aplicou a multa e está tomando as providências para que isso não se repita.

Viu? O problema está sendo resolvido do jeito que tem que ser. E tenho certeza de que o respeitável empresário João Carlos Paes Mendonça - sem babação, admiro ele mesmo - está ciente do que ocorreu e vai cobrar providências. Duvido que ele seja contra o direito à livre expressão que o cidadão tem garantido na Constituição Federal.

Não precisa calar o ouvinte. Ok, diretor?

Não precisa censurar ninguém. Nota zero pra quem faz isso.

Ah, e como não sou de censurar ninguém, a Rádio Jornal pode mandar e-mail contando sua versão que coloco no ar, na íntegra. Tentei pegar "o outro lado" durante o dia inteiro, mas vocês não soltaram nada pra mim. 

Mandem que eu publico. Sem censura. Palavra de estagiário. ;)

Update: Um videozinho pra animar e relaxar depois de um post tenso


Nem precisa ouvir tudo. Coloquem em 1' 35"
Tá dado o recado.

2 comentários:

  1. É justamente por aí, futuro periodista. Eu fiz menção no ar, no programa de Geraldo Freire, a um fato social gravíssimo, que já havia sido noticiado pelos concorrentes da Rádio do Índio. Paes Mendonça contratou uma empresa que manteve trabalhadores sob escravidão e dava comida estragada pra eles, e passou a responder solidariamente por ela, é o que diz a lei. E o Sistema Jornal do Commércio de Comunicação não fez nenhum registro sobre o fato, que foi notícia. Houve, inclusive, autuação pelo Ministério do Trabalho. Mas se ele, Paes Mendonça, emitisse uma nota esclarecendo que não concordava com estes absurdos e que acionaria a empresa contratada na Justiça, "sairia bonito na foto". Mas o problema é o tal do "Babão", que pensa que tá ajudando o patrão e dá uma melada dessa, gerando um fato político e profissional absurdo: CENSURA. Nas redações é retrocesso, inadmissível! Agora, só pode entrar no ar os ouvintes que este elemento permite. Isso vai ficar assim mesmo ?!

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  2. Tô entrando no ar de novo, pelas beiradas, futuro periodista. Qualquer novidade, eu berro de novo.

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